Apesar do alvo preferencial dos cartoonistas ter sido o presidente norte-americano e “suas ligações perigosas”, os trabalhos também baseiam-se em temas mediáticos como a crise dos refugiados, o estado de Cuba, a tecnologia, o aquecimento global e as fugas para as cidades, que estão a transformar o modo de ver e de viver o mundo.
No caso da dupla espanhola vencedora, a caricatura do polémico presidente sírio, desenhada a quatro mãos, valeu a sua subida ao palco duas vezes. Primeiro para receber o prémio na categoria caricatura, no qual obteve o primeiro lugar, e depois para receber o grande prémio da 14.ª edição do WPC.
Com vasta experiência em humor gráfico, Javier Carbajo e Sara Rojo optaram por retratar no seu cartoon a “figura um pouco sinistra de Bashar al-Assad, que até tem aquele ar de boa pessoa”, bem como “todo o drama da guerra da Síria”. Apesar de ter sido “complicada e a sua gestação ter durado mais do que a guerra da Síria”, retrata alguém que “se esqueceu olimpicamente do seu povo e um sítio que a guerra e a repressão deixaram tudo destruído”.
Na mesma categoria, o júri atribuiu o 2.º prémio à obra Angela Merkel, de outro espanhol, Joaquín Aldeguer, publicado na revista El Jueves, e o 3.º prémio ao autor brasileiro Cau Gomez, com a caricatura alusiva a Martin Luther King, publicado no jornal Le Monde Diplomatique.
O autor brasileiro aproveitou a ocasião para dedicar o prémio à vereadora Marielle Franco, que foi assassinada no ano passado no Brasil.
Nesta noite foram ainda premiados mais seis cartoonistas: dois prémios foram para Espanha, um para o México, um para a Bulgária, um para a Turquia e um outro para Cuba, como foi o caso de Ramsés Morales, a quem foi atribuído o 1.º prémio na categoria Cartoon Editorial.
O cubano apresentou um desenho alusivo às “grandes mudanças que se vivem agora em Cuba”. Intitulado “Cuba na oficina” e publicado no site americano OnCuba, retrata um carro típico do seu país, que “está a ser reparado mas que nunca mais arranca”.
Já na categoria Desenho de Humor, que diz respeito a “um desenho que não diz diretamente respeito a um momento concreto”, o 1.º prémio foi atribuído ao mexicano Boligán, com a obra “Reload”, publicada no jornal El Universal e que procura ser “uma crítica ao dias de hoje, onde a tecnologia impera e onde não falta matéria-prima para os cartoonistas”.
Portugal também integrou o grupo de premiados com o ilustrador André Carrilho a ser distinguido com o 2.º lugar nessa mesma categoria, com a obra “Cheias em Veneza”. Publicada no jornal Diário de Noticias, o desenho é uma espécie de crítica à “febre das selfies”. Finalmente, o 3.º prémio nesta categoria foi para “Autocarros”, do autor francês Constantin Sunnerberg, publicado no jornal Courrier Internacional.
Todos estes trabalhos premiados e publicados em 68 países encontram-se expostos no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha até 28 de julho.
Criação de um espaço dedicado à caricatura
A cerimónia, cuja apresentação esteve a cargo Inês Gonçalves, do programa “5 Para a Meia-Noite”, da RTP1, também ficou marcada pelas palavras da vereadora da cultura, Maria da Conceição Pereira, que sublinhou que o WPC “reforça a ideia das Caldas da Rainha como polo artístico, cumprindo ainda outro legado muito ligado à cidade, que é lutar pela liberdade de expressão e da criatividade”.
Este ano o WPC, que teve o custo de 180 mil euros, foi realizado mais cedo do que o habitual, porque “queremos que as escolas do concelho possam visitar e conhecer os cartoons”, o que nas edições anteriores não foi possível acontecer. Mas para completar este evento, a autarca também falou da hipótese de vir a ser criado um espaço dedicado à caricatura. Explicou ainda que não seria um museu mas “sim um espaço, onde pudéssemos ter a caricatura mais permanente nas Caldas, de modo, a ser um embrião para que um dia possamos ter aqui algo que ainda não existe em Portugal, que é o Museu da Caricatura”.
Já o cartoonista António, diretor do WPC, considerou que o evento “correu muito bem e tivemos uma sala mais cheia do que no ano passado”. Nesse sentido espera que aqui “se mantenha por muitos e bons anos” devido ao “passado relevante ligado à caricatura” e também porque “fomos bem recebidos”.
Igualmente referiu que esta edição, que contou com “trabalhos com uma carga dramática menos evidente que nas duas edições anteriores”, teve mais uma vez a “importante tarefa de continuar a acentuar a liberdade de expressão”.
Presente também esteve o diretor adjunto de informação da RTP, António José Teixeira, que fez questão de destacar a “falta de sentido crítico” nos media e os “atentados à liberdade de expressão um pouco por todo o mundo”, e nesse sentido, o “cartoon é como um foco nos temas pertinentes”.
Para o presidente da Culturcaldas, Vítor Marques, “este evento é uma aposta na cultura e tem tudo a ver connosco”, por isso, “Caldas da Rainha devia de passar a ser a cidade ou mesmo capital mundial da caricatura”.
Entre as entregas dos prémios e os discursos dos premiados, a noite também foi abrilhanta pela atuação dos franceses Elastic & Francesca, e ainda pelas piadas do comediante luso Pedro Tochas. A animação musical esteve a cargo da orquestra ligeira Monte Olivett, constituída por músicos da cidade e dirigida pelo Maestro David Santos.
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