Escrevo diretamente do Reino Unido e por aqui o tempo passa vagaroso quase sem sinais de acordo ou consenso para a saída.

O Brexit ao contrário do que esperado é uma palavra não utilizada regulamente no vocabulário inglês e é preciso ter cuidado quando utilizado. Para os mais jovens o sentimento de pertença à Europa é algo inato, além de britânicos sentem-se em segundo análise cidadãos europeus e entendem como catastrófico o isolamento que temem sentir além das desvantagens que encontrarão no futuro quando colocados à par com outro cidadão europeu. Para a camada mais velha, a Europa e o seu sonho foi um processo também vagaroso e de habituação mas ao qual a maioria já se acomodou.

Bom, talvez não a maioria quando revimos os resultados do referendo que delineou a saída do país e acionou o artigo 5°. Vive-se bum passo lento, mas inquietante quanto ao futuro. Se por um lado encontramos uma Europa sólida na sua decisão e a forçar os mecanismos, por outro assistimos à falta de consenso interno que coloca em risco o atual governo de Theresa May, que não consegue de forma alguma aprovar o acordo que tem em mãos. As manifestações intensificaram-se nos últimos meses principalmente no grande centro económico que já começou a ressentir a decisão política: Londres.

Interessa relevar a intensificação dos protestos nos últimos meses, talvez agora os cálculos tenham sido feitos de maneira assertiva e os custos para os britânicos se tenham revelado maior que o esperado. Não é apenas uma questão económica, mas sim política e acima de tudo de identidade juntando ainda as forças disruptivas internas como a Irlanda e por aí.

Existem uma série de cenários em cima da mesa mas que para já encontrarão pela frente o bloqueio político britânico mas a maior aposta será para o descontentamento generalizado com a ineficácia do atual Governo (que internamente se encontra dividido) e na pressão para renovação do mesmo, não querendo isto significar que existirá uma renovação nos ideias que criaram e encaminharam o Reino Unido ao Brexit.

A realidade dos fatores que conduziram ao referendo é a da pacificação com os mesmos, não generalizando ao total da população, quando a grande dúvida hoje em dia se relaciona com o futuro de milhares de britânicos, principalmente quando falamos dos jovens que estará em clara desvantagem e exclusão no contexto europeu e também para as classes económicas que se veem neste momento confrontadas com mudanças abruptas no sistema económico, com efeitos ainda pouco visíveis mas reais, e que colocaram em risco muitos postos de trabalho e a qualidade de vida, principalmente nos grandes centros económicos.

Em conclusão, o Brexit é real mas parece cada vez mais longínquo quando falamos em estabelecer acordos e entender quais as reais consequências do mesmo dentro e fora de fronteiras britânicas, mas certo é que a vida de milhares de pessoas está a ser negociada mesmo que no quotidiano não se reconhecem ainda mudanças extremas.

Rafaela Gonçalves