Com encenação e dramaturgia de Hélder Gamboa, teve como assistente de encenação Emanuel Vicente, tradução de Ângela Pinto, cenografia de Rui Filipe Lopes, desenho de luz de Paulo Graça, música original de Luís Lucena, produção executiva de Miguel Manaças e Ângela Pinto, assistência de produção de Inês Moita, apoio geral de Gonçalo Ferreira, comunicação de Tenda Produções e Alberta Melo e Castro, e, por fim, coprodução do Teatro da Trindade INATEL e da Tenda Produções.
Repleto de nuances psicodramáticas, com pitadas de humor e salpicos de esperança, o diálogo das duas personagens foi-se desenvolvendo de modo arrebatador, levando a assistência a comover-se em diversas cenas.
Toda a história é amparada por um duelo verbal/emocional entre mãe e filha, iniciado a partir de uma frase, banalmente dita, por parte de Luísa (a filha) onde, esta, expõe a sua vontade em suicidar-se naquela noite, isso, dito enquanto anda calmamente de um lado para o outro em afazeres trivialmente domésticos.
As duas não possuem problemas financeiros, o que se passa é o comum para uma grande parte dos conglomerados familiares, principalmente os portugueses: A falta de apelo cultural e de incentivos externos – que lhes permita “ter a cabeça ocupada” – fazem com que se pense no absurdo de cometer o terrível e insensato ato de por fim à existência, por isso, o marasmo caseiro fartou Luísa e ela quer acabar rapidamente com ele. A mãe principia, então, um jogo, para tentar malograr um pensamento que, ao que tudo indica, é definitivo.
Inicia-se, então, um duelo de emoções, onde as espadas são a eletricidade visceral que, em faíscas intempestivas, saem do âmago de cada uma.
Telma tenta dissuadir a filha de cometer um ato pensado e cruel, mas, o desejo de Luísa é mais forte, pois, ela é toda certezas, apesar de ser uma jovem com muitas inseguranças, trazidas de um berço, de uma infância e de uma adolescência bafejadas com a impiedade da epilepsia, e de uma perceção caseira muito violenta: A de compreender que entre os seus pais não há amor. Uma dor enorme para uma personalidade que se forja.
A encenação de Hélder Gamboa faz-nos divagar entre realidades, permitindo o consumo, gota a gota, de todos os sedimentos sensitivos que a magnífica dramaturgia da autora nos faculta, possibilitando que o abandono, a angústia, o amor, o ódio, a alegria, a tristeza, enfim, todas as frações que constroem a alma humana desfilem por aqueles dois corpos e saiam voluptuosamente por aquelas bocas.
Um texto forte. Uma chamada de atenção para um tema-tabu. Um elenco admirável. Um encenador criativo e minucioso. Uma equipa técnica muito competente. Tudo misturado num caldeirão com aquela qualidade e… Fez-se Teatro!
Senti falta dos caldenses que andam, todos os dias, a reclamar que no Centro Cultural e de Congressos há pouco teatro. Devem ter estado ocupados com os “futebóis”.
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