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53 pessoas partilharam as suas memórias sobre a Lagoa de Óbidos

Marlene Sousa

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Cinquenta e três pessoas partilharam com uma equipa de 18 investigadores do Instituto de História Contemporânea as suas histórias sobre a Lagoa de Óbidos. Os conteúdos serão editados e disponibilizados na plataforma “Memória para Todos” no final de fevereiro. 
Foram partilhados muitos objetos ligados às artes de pesca

O convite para fazer parte do projeto “Memórias da Lagoa” levou à partilha de testemunhos orais, fotografias e objetos relativas ao património natural, material e imaterial da Lagoa de Óbidos.

Integrada na iniciativa “Dias da Memória”, a recolha de testemunhos e documentação foi realizada nas instalações do Inatel, na Foz do Arelho, por uma equipa de 18 investigadores do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa-

“Registámos fotografias das pessoas e famílias, sobretudo ilustrando as atividades realizadas na Lagoa e na sua envolvente (passeios de barco, piqueniques, atividades piscatórias, entre outros). Foram partilhados muitos objetos ligados às artes de pesca — galrichos e nassas, redes, entre outros— e vários bivalves recolhidos na Lagoa”, disse Luísa Seixas, investigadora que ao longo do fim de semana participou na recolha de testemunhos.

Segundo esta responsável, “foram também registados diversos testemunhos e memórias sobre o próprio espaço do Inatel onde decorreram os Dias da Memória”.

Outros tópicos referidos foram as “festas populares e religiosas, a gastronomia (como as receitas e formas específicas de confecionar o marisco e o peixe da Lagoa)”.

Fernanda Rolo, coordenadora científica do programa “Memórias para Todos”, que também esteve no Inatel, fez um balanço “muito positivo” dos testemunhos e objectos, que “foram muito variados, permitindo uma visão múltipla das vivências e memórias da Lagoa de Óbidos”. “As pessoas compreenderam aquilo que se pretendia e têm trazido histórias inéditas, nomeadamente sobre a Guerra Mundial, e sobre a atividade ligada à Lagoa (pesca) mas também sobre a atividade agrícola”, disse a responsável.

“Seguramente que o somatório destas contribuições vai ser interessante para conhecermos melhor a história da Lagoa de Óbidos e para a identidade da própria comunidade”, salientou Fernanda Rolo, acrescentando que contribuirá também para a interpretação que temos da “história do país, num período mais recente e mais recuado”.

Os materiais serão agora tratados, contextualizados e patrimonializados integrando a Plataforma www.memoriaparatodos.pt em finais de fevereiro e posteriormente a exposição e conteúdos do Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos, um dos projetos vencedores do primeiro Orçamento Participativo Portugal, realizado em 2017.

No entanto, trata-se de um projeto aberto, em que quem não participou pode sempre contatar a equipa para que as suas memórias possam ser incluídas.

Testemunhos orais

Valdemar Lopes, do Vau, em Óbidos com 62 anos, começou a pescar na Lagoa tinha 12 anos. Entregou aos investigadores uma rede de arrasto contando que foi com aquela rede, “atualmente proibida na pesca, que em 1982, numa noite que a aberta estava fechada consegui com outro pescador apanhar 420 quilos de eiroses(enguias)”. “Foi o meu recorde”, revelou, acrescentando que “este tipo de enguia só aparece quando a lagoa não tem comunicação com o mar”. Atualmente é mergulhador deapneia para a apanha de ameijoa na lagoa.

Anabela Frade, de 67 anos, que vive atualmente na Foz do Arelho foi testemunha deste projeto, trazendo vários filmes de há 50 anos que gravou com a sua máquina de filmar super 8 que comprou nos Estados Unidos quando tinha 14 anos. “Vivi quatro anos nos EUA e quando vinha passar férias na Foz do Arelho filmava tudo”, recordou, revelando que tem “filmes das duas margens da Lagoa de Óbidos, de matanças de porco que aconteciam na Foz do Arelho e outros costumes antigos que se passavam nesta zona”.

Anabela Frade pensava que os filmes tinham desparecido, mas para seu espanto o seu filho encontrou as filmagens no sótão de casa e “este natal tive uma agradável surpresa, quando o meu filho me ofereceu um CD que gravou com os meus filmes antigos”, contou.

Segundo esta testemunha, antigamente a aberta fechava e “tocavam o búzio e vinha toda a gente abrir o canal à mão de uma forma natural em frente ao Gronho”, criticando a forma como hoje abrem o canal “empurrando a aberta para outro lado”.

Fernando Sousa,presidente da Junta da Foz do Arelho, também contou a sua história de quando era nadador salvador da lagoa e do mar da praia da Foz do Arelho, salvando dezenas de pessoas. Há 40 anos iniciou a atividade de nadador salvador, e recorda que morria muita gente, nomeadamente na lagoa. “Antigamente nem todos sabiam nadar e a lagoa era mais complicada do que o mar, porque as correntes são maiores, e como o mar tem barbas as pessoas não arriscavam tanto. Na Lagoa todos pensavam que andavam com pé e afastavam-se mais um bocado e ali ficavam”, contou. Recordou ainda que por vezes mandavam “uma rede de pesca para apanhar os corpos para eles não desaparecerem no mar”.

José António Ferreira, de 83 anos, esteve emigrado no Canadá, mas agora vive na Foz do Arelho. Recorda que quando era miúdo a lagoa tinha vários nomes, dependendo da sua localidade. “Salinas, braço do Bom Sucesso, braço da Barrosa, Ponte Branca, Bico do Forno, Lapinha”, entre outros, foram alguns dos nomes revelado por este testemunho.

Policarpo Marques, de 78 anos, e Francisco Baltazar Antunes, de 84 anos, ambos do Nadadouro, recordaram quando iniciaram a pesca na lagoa, com 7 e 12 anos. “Apanhávamos caixotes com 40 ou 50 quilos de linguado, robalo, entre outros peixes, e íamos a pé para a praça das Caldas vender e por vezes não vendíamos tudo”, contaram. Policarpo Marques recordou ainda a quantidade de limos que havia na lagoa. “O peixe escondia-se no limo e quando se amanhava a tripa era limpinha e branquinha, e agora, quando se amanha um peixe da lagoa é só lama, porque não há limos onde o peixe se possa abrigar”, adiantou o pescador.

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