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Nós e a China

Francisco Martins da Silva

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“Vinho, azeite e amigo, quanto mais antigo, melhor”, é um ditado português muito conhecido na China, segundo o presidente Xi Jinping.

Portugal foi o primeiro país europeu a enviar uma embaixada à China, decorria o ano de 1517. E foi também o último a governar uma parcela do território chinês, Macau, até 20 de Dezembro de 1999 — data acordada na Declaração Conjunta Luso-Chinesa, de 1987.

Em 1974, quando o Conselho da Revolução quis despachar Macau a trouxe-mouxe, como fez tragicamente com as colónias, os chineses não o permitiram, exigindo um período de transição de 25 anos, gradual, harmonioso, responsável, que respeitasse quem lá vivia e acautelasse os seus interesses. A China chamou-lhe “situação herdada da história”, e decidiu que os dois países a resolveriam em devido tempo. E assim aconteceu. E todos ficaram a ganhar: a China, que dependia de Macau e Hong Kong como fontes de divisas e plataformas de contactos, evitou assim abalar a confiança dos investidores, o que traria custos muito elevados para a sua economia, ao fazer gradualmente a transição de Macau; Portugal, em pleno PREC, sem condições políticas, ideológicas, para prolongar por sua iniciativa quaisquer processos tutelares em territórios do antigo império, mesmo Macau não sendo formalmente uma colónia, viu-se, assim, livre desse ónus político. A imposição pela China dos termos da transição de Macau foi um alívio para Portugal, e hoje pode-se dizer que a vida dos portugueses que lá estão é melhor que nunca.

Por estranho que pareça, este episódio demonstra uma característica comum entre Portugal e a China — pragmatismo — e será talvez o pretexto para que Portugal surja como parceiro privilegiado da aposta de Pequim em transformar a ordem política e económica global, colocando a China no centro, através desse plano fabuloso designado “Belt and Road Initiative” — “Cintura e Rota”, como se diz por cá —, lançado em 2013, que retoma conceitos da milenar Rota da Seda, ligando a China a novos mercados na Europa, Ásia e África através de uma rede de portos, ferrovias, estradas e parques industriais. Para além de um percurso terrestre que atravessa o continente euro-asiático, e que se prevê que chegue por via férrea até Lisboa, inclui também uma rota marítima que pretende ligar o Oceano Pacífico ao Atlântico, ligando cerca de 70 países, cobrindo 65% da população mundial, representando mais de 30% do PIB do planeta e mais de 30% do fluxo de bens e serviços. Equivale a 12 planos Marshall, diz-se. Ora, a razão deste renovado apreço chinês para connosco é, sobretudo, pragmática: o porto de Sines, o terminal do Barreiro e Lisboa estão no extremo dessa nova Rota da Seda e constituem o acesso ao centro do sistema europeu de poder e aos imensos recursos da nossa Plataforma Continental, que temos desprezado, e um entreposto para o continente americano. Portugal só é periferia em relação à sobranceira Europa; em relação ao mundo, estamos no centro. Xi Jinping percebe também que a política externa portuguesa não se reduz à política europeia e que se aderirmos à Cintura e Rota, outros países europeus como a Holanda, Itália ou Espanha ultrapassarão certos pruridos europeístas e aderirão também.

A Cintura e Rota será a grande história deste século. Será a alternativa ao conceito de Ocidente. A Alemanha, a França e os Estados Unidos opõem-se frontalmente e têm pressionado Portugal a não colaborar com Pequim. Opõem-se por interesses próprios, claro está. Pragmatismo. Portugal tem apenas de ser pragmático, também. Estarão os nossos governantes à altura? Será uma pena se o país voltar?a sucumbir às pressões europeias, como fez na negociação?da integração ao sacrificar a agricultura, a indústria e as pescas. Mas Portugal terá de saber encontrar o equilíbrio entre um compromisso vantajoso com a China, que lhe trará num futuro próximo um peso incomparável no xadrez económico e político mundial, elevando-nos de protectorado a verdadeiro parceiro, e as obrigações para com a UE e a NATO. Sobretudo, os governantes portugueses nunca se poderão esquecer de que já há uma excessiva presença chinesa em alguns sectores fundamentais da nossa economia, como a energia, a banca ou os seguros, e que a China é uma implacável ditadura de partido único, que se tem vindo a tornar cada vez mais repressiva. A relação de forças será sempre demasiado desproporcionada. A inscrição de Portugal na UE e na NATO continuará a ser a nossa principal opção estratégica, o que não deverá obstar a que se desenvolvam relações com grandes países de economias dinâmicas como a China — e também a Índia, o Japão ou a Coreia do Sul. Pragmatismo.

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