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A propósito de uma homenagem a Armando Correia

Apenas memória

Jorge Mangorrinha

EXCLUSIVO

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Armando Correia foi o mais completo artista caldense de todos os tempos. Escrevo-o, não porque eu tenha recebido esse apelo dos autoproclamados historiadores da arte local, mas porque o sinto e comparo, tal como reconheço a verdadeira criação, no desenho, na cerâmica, na pintura, na escultura, na pedagogia. Nem a amizade, que também recebi de outros grandes artistas, me dificulta esta leitura sobre o percurso profissional do Armando, pleno de sensibilidade e de inconformismo, de cambiantes e de sensualidade, de local e de mundo, do céu e da terra, do sagrado e do profano. A sua obra é, também, memória física e perdurante, com assinatura reconhecida, mas transformada em poesia, portanto, imaterial.

O artista notável não teve porém uma vida fácil, cujas causas nem sempre se lhe deveram directamente, mas a alguns contextos profissionais e pessoais. É próprio dos grandes artistas. É próprio dos poetas. É próprio, talvez, de quem parte cedo demais.

No dia da sua morte, escrevi: “Eles partem no tempo que atraiçoa os que vão e os que ficam e em que nos damos conta de que a vida nos passa, fugazmente, por entre fragmentos partilhados.

Eles são os nossos, aqueles de quem gostamos.

Armando: foste criativo, crítico, errante, apaixonado, sofredor, porque tudo isso é ser Artista. Mas a tudo isso se sobrepõe o privilégio da amizade, de que nos brindámos.

Hoje, como nunca, não importam alguns dos que escreverão sobre ti. São os mesmos que, distantes de afecto na tua vida, também disseram que a pedagogia da Cerâmica, na Escola Superior, se devia resumir a doutores e engenheiros.

Hoje, como nunca, não importam os amigos por conveniência dos ceramistas. Não importa esse estilo provinciano, porque, em contrapartida, a tua Obra se espalhou por todo o mundo.

Ontem, como hoje, foste maior a todos eles, a todos nós, e sei que se pudesses ter escolhido o nome do teu lugar eterno lhe chamarias Alentejo. Se assim fosse, talvez um dia nos encontrássemos de novo, até porque lá, para além da abundância do barro, a água também brota, mas sobretudo tratam-nos bem.”

Passaram dez anos sobre estas linhas. Eu perdera o amigo, mas hoje nem sequer tenho as suas obras, que eram poesias em casa, desaparecidas para parte incerta. Mas quase tudo o que seríamos, hoje, no imaginado reencontro, fundir-se-ia na memória imaterial, porque diz o poema que as coisas tangíveis se tornam insensíveis à palma da mão, mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.

E seriam essas as coisas que nos preenchiam hoje em dia.

A terra que nos viu nascer a ambos diz-se com artes – não lhe faltam a escola, os museus, a indústria, os artistas, os autarcas e os cidadãos, e até os comissários. Mas diferente de uma cidade com artes é uma cidade da arte. O Armando foi um fazedor, bem como um observador da sua cidade, sofredor, nunca vendido – viu-a, como poucos, na totalidade e no pormenor. E as nossas conversas eram estimulantes, sobre a estética como traço essencial da qualidade de vida urbana, porque não compreendíamos como esta era uma cidade que não conseguia consolidar, no espaço e no tempo, novas experiências estéticas e favorecer a formação de vivências e uma educação para a sensibilização do olhar, para a salvaguarda efectiva de patrimónios e para a constituição dos sujeitos. Durante um tempo, como se sabe, tentámos algumas coisas, através da Comissão de Estética Urbana, do Plano de Salvaguarda e Valorização do Património Cerâmico ou, depois, do Conselho da Cidade.

O Armando Correia foi completo não só pela sua alma de artista mas, também, por ter sido um cidadão exemplar na sua terra natal e, essencialmente, um homem superior. Na vida, antes da memória!

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